O que esperar de uma menina de 20 anos, que saiu da Freguesia do Ó, ainda adolescente, para rodar o mundo como integrante de um dos grupos de música pop mais bombados da última década? Enquanto aguardo Any Gabrielly
para um café, tento adivinhar seu comportamento e imagino um deslumbre eufórico, próprio de quem acumulou conquistas muito grandes, muito cedo. Uma empolgação quase infantil e totalmente justificável para alguém que vive, hoje, uma realidade diametralmente oposta à de sua origem. Quem eu encontro, entretanto, não se parece em nada com a menina que fantasiei. Pelo contrário. Apesar da pouca idade, Any tem os pés bem fincados ao chão, sabe o que quer e o que não quer e encara com muito pragmatismo a carreira solo iniciada em novembro de 2022, quando deixou o Now United.
A saída do grupo – com o qual se apresentou para estádios lotados em países como Rússia, China e Finlândia, colecionou prêmios importantes e levou o Brasil a feitos inéditos, como a primeira indicação ao VMA, em 2020 – diz muito sobre seu amadurecimento pessoal e profissional. "Hoje entendo melhor quem eu sou e a mensagem que quero passar por meio da música", afirma, entusiasmada, sobre mais esse passo na caminhada que iniciou ainda criança.
Com uma determinação tão evidente quanto sua beleza, ela conta que sempre se dedicou a aprender tudo o que pudesse ajudá-la no ofício que escolheu. O inglês quase sem sotaque, fundamental para sua carreira global, é prova disso. Assim como as aulas de canto e dança, que fizeram toda a diferença para que se destacasse entre jovens talentos do mundo inteiro no disputado processo seletivo do Now United.
Longe de casa desde os 15 anos, Any não sucumbiu às armadilhas de viver a adolescência sendo observada por milhares de pessoas. "Meus erros, comuns a qualquer menina da minha idade, eram vistos e julgados. Foi desafiador atravessar essa fase tendo tantas responsabilidades, mas tudo contribuiu para a construção de quem eu sou hoje", reflete. Ela já voou tão alto que, às vezes, sente dificuldade em fazer sua própria família entender a dimensão de suas conquistas. Como explicar o peso de ser empresariada por Simon Fuller, criador do reality show American Idol e do grupo pop Spice Girls? Ou a importância de começar sua carreira solo assinando contrato com o departamento mais prestigiado da Republic Records, gravadora que tem em seu portfólio fenômenos mundiais como Taylor Swift e Ariana Grande? "Meus pais achavam que o auge era aparecer no programa do Faustão e até hoje sonham com o dia em que vou ganhar um papel na novela", brinca.
Mas ela tem muita clareza do lugar que quer ocupar. Com 10 milhões de seguidores no TikTok e 7 milhões no Instagram, alguns posts seus bateram a marca de 25 mil comentários, um engajamento impressionante, que atraiu marcas como a Puma, da qual se tornou embaixadora. Apesar do nítido poder de influência, ela é cuidadosa quando o assunto é sua presença digital. Não está disposta a expor cada detalhe de sua vida, nem quer que isso se sobreponha a seu trabalho artístico. "Sei que as redes sociais são uma ferramenta importante. Quero trabalhar com marcas que admiro e seguir me conectando com o maior número de pessoas possível, mas isso não pode ser o principal", afirma.
Atualmente morando em Los Angeles, Any está animada com o que vem pela frente. Recentemente passou um mês em Londres, criando com alguns dos melhores produtores da atualidade – caso da dupla Stargate que trabalhou com Rihanna, Katy Perry e Britney Spears (só para citar algumas). Mais do que bombar, ela quer usar a música para comunicar sua verdade que, como não poderia deixar de ser, tem muito a ver com sua chegada à vida adulta e seu olhar para o mundo como mulher negra. "Falar de racismo é falar da minha história, não vejo isso como um peso. Os artistas que mais admiro souberam se manter sensíveis à realidade do mundo à sua volta e usaram a arte para passar uma mensagem", diz. Com todo o potencial para se tornar uma diva pop reconhecida mundialmente, ela sabe que pode ser ainda mais: "o dia em que meu objetivo for criar um hit, vou fracassar. Fazer música para as pessoas dançarem é legal, mas não estou nessa para ser apenas entretenimento".